As onças-pintadas podem desaparecer do Parque Nacional do Iguaçu num prazo de cinco anos, caso seja mantida a média anual de 10 mortes provocadas pelo homem nos últimos sete anos, registrada por pesquisadores e moradores vizinhos da reserva. A extinção vai resultar na quebra da cadeia natural entre os animais existentes na unidade, que abriga as Cataratas do Iguaçu. A primeira consequência será o crescimento desordenado dos animais que são caçados pelas onças como alimentos.
A onça é a maior predadora das 10 espécies de animais encontrados no parque. Sem a Panthaera onca (nome científico), as presas que servem de alimento para ela - capivara, paca e tatu, entre outras - terão condições de se reproduzirem com mais facilidade, ocasionando um aumento de sua população. Quando isso acontecer, aquele que dominar o território terá mais facilidade para matar quem está abaixo no ciclo de alimentação. No Brasil existem 26 espécies de carnívoros terrestres. Elas estão divididas em quatro famílias: felídeos (onças e gatos-do-mato são os principais representantes); canídeos (lobo guará e cachorro-do-mato são os principais representantes); mustelídeos (ariranha e lontra são os principais representantes) e procionídeos (quati e guaxinim são os principais representantes).
O risco de extinção da onça-pintada no Parque Nacional do Iguaçu foi diagnosticado há 11 anos, quando o Projeto Carnívoros do Iguaçu foi criado. Cálculos dos pesquisadores revelaram, em março de 1990, que a dimensão da reserva tem um potencial para abrigar 170 onças-pintadas. Mas já naquela época estimavam que a população da espécie não chegaria a 150 animais. Apesar de ser impossível quantificar o número atual, os biólogos acreditam que a população não passe de 60 animais.
Para o gerente do Centro Nacional de Pesquisa para Conservação de Predadores Naturais (Cenap) - com sede em Sorocaba (SP), - Peter Crawshaw, criador do Projeto Carnívoros do Iguaçu, essa "é uma quantia otimista até demais." O Cenap é uma unidade administrativa do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Os levantamentos indicam que de 1994 até o ano passado, 74 onças-pintadas foram mortas no Parque Nacional do Iguaçu. Nesse número estão descartadas as mortes naturais e também ficam de fora os felinos que são mortos mas não encontrados. O balanço revela que uma média de 10 onças têm sido mortas por ano nos últimos sete anos, embora o parque seja a maior área protegida da Bacia do Prata.
O Projeto Carnívoros do Iguaçu - pioneiro no estudo de carnívoros em unidades de conservação no Brasil e apontado como uma referência internacional para os estudos de ecologia de mamíferos, - revela números ainda mais preocupantes, que levam realmente à possibilidade de extinção da espécie.
Desde a sua implantação, em 1990, foram monitorados 70 animais, entre onças-pintadas, jaguatiricas, cachorros-do-mato, gatos mouriscos e quatis. Do total, 20 são onças-pintadas e 18 delas (90%) foram mortas por caçadores e fazendeiros. ''Somente de abril de 1990 a dezembro de 1994 usei nove animais no meu estudo. Mas num período de dois anos, nenhuma das nove onças-pintadas estava viva'', relata Peter Crawshaw. Outro indicativo que reforça o risco de extinção da espécie no Parque Nacional do Iguaçu é o fato das onças-pardas serem encontradas com mais frequência que as pintadas, na unidade. "A pintada é dominante sobre a parda. Onde tem bastante pintada tem pouca parda. A mudança significa que ela está tomando posse do território deixado pela onça-pintada," explica o biólogo, que baseou sua tese de doutorado, apresentada na Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, nos estudos da fauna do Parque Nacional do Iguaçu.
Na opinião de Peter Crawshaw, a população da Panthaera onca está se aproximando de um número crítico, do qual pode não haver retorno, por causa do empobrecimento genético. "Os predadores de topo de cadeia atuam como fator de controle sobre tudo que vem abaixo deles. É como se fosse um filtro, que força todas as espécies a melhorarem geneticamente. A perda da onça-pintada é irreparável," afirma o pesquisador.
A solução para eliminar o perigo de extinção, ou adiar seu prazo, como o próprio pesquisador alerta, é aumentar a fiscalização na reserva, implantando um programa repressivo para acabar com a matança de onças. "Tem que levar o assunto a sério, para pelo menos segurar essa tendência drástica. A próxima etapa é partir para a conscientização dos fazendeiros, filhos de fazendeiros, visitantes, caçadores e, enfim, da comunidade em geral."
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